Eu sou uma alma inextricável; citações de filósofos
que não conheço, pedaços de poemas que ainda não tive tempo de
decorar e promessas que não cumpri feitas inconsequentemente às duas da manhã;
todos emaranhados como se fossem um único capítulo, sem distinção de onde eu
começo e onde termino.
Eu vivo constantemente me arrastando
porque as coisas que carrego dentro de mim são pesadas demais.
São pesadas como as chuvas que caem
durante a madrugada, como um cilindro de oxigênio, como pálpebras que caem de
sono em meio a lamentações, pesadas como pétalas de rosas apodrecidas que ao
invés de caírem são extirpadas. Pesam e ardem; ardem como uma ferida aberta
cutucada por dedos curiosos, que tenta constantemente se fechar, mas sempre é
interrompida. A ferida é interrompida.
Eu sou a ferida.
E queria eu, ser inteira novamente.
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