terça-feira, 18 de setembro de 2012

purple are my feelings for you.


Faz tempo que eu não escrevo.
Costumava ver poesia em tudo – a sensação artificial de frio numa sala com ar condicionado e uma voz falhada virava verso em cinco minutos – e ter a capacidade de embelezar os sentimentos mais banais através de algumas palavras açucaradas.
Mas eu ando cansada (o hábito de tomar café não costumava ser tão comum até três meses atrás) e sem inspiração.
Porque eu me distanciei do que me inspirava. A cama arrumada tornou-se a primeira prioridade do meu dia, meus cadernos coloridos foram deixados de lado, as canetas secaram e a mesa passou tempo demais limpa e arrumada.
É triste, pensar que alguém que tanto preza a arte de escrever, se distanciou de tudo aquilo que lhe dava vontade de colocar palavras num papel.
A verdade é que nenhum professor de literatura fala o que realmente é expressar tudo que você sente, metaforizar tudo que você representa, exagerar tudo aquilo que você é e vomitar tudo que você pensa em meia dúzia de linhas. Nenhum professor de redação diz como é doloroso esse processo e como te deixa vulnerável. Como te transforma em uma pessoa constantemente inacabada; fragmentos de pessoas, citações aleatórias de autores já falecidos e ideologias perdidas. O que era uma alma de poeta passa a ser nada mais, que uma alma mutilada.
Por esses motivos, de tempos em tempos, eu me olhava no espelho um pouco antes de tirar a maquiagem e me via em pedaços. Quebrada. Eu sabia que não era uma pessoa completa; eu não era eu ainda.
Então, era natural que eu sentisse a necessidade de consertar todas as coisas que estavam quebradas dentro de mim – ossos e promessas. A diferença era que eu sabia que não eram rimas que iriam me remendar dessa vez.
Então eu continuei me mantendo longe de tudo que me desse vontade de pegar um papel e um lápis. Tornei-me apática – alienada –; no entanto, achei que estivesse bem. Pensei que estava fazendo as coisas da maneira correta e que tudo estava melhorando – pelo menos deveriam, afinal eu me afastei das más companhias, pintei as unhas de cor de menta e me enchi de músicas alegres.
Foi aí então, que de repente, como se eu estivesse tendo algum tipo de reação alérgica ao universo e á mim mesma; um sorriso – que da última vez que eu o vi, podia jurar que ainda não tinha duas adoráveis covinhas – provou que eu estava errada.
Aliás, eu estava me enganando todo esse tempo. Tentativa admirável, claro – o prêmio de fracassada do ano vai para mim– mas de verdade, nenhuma das mensagens positivas que eu enfiei na cabeça nem nenhuma cama arrumada fizeram alguma diferença.
Porque a partir do segundo que eu ouvi a sua voz dizer o meu nome depois de tanto tempo, eu juro que meu primeiro pensamento fora descrever a cor encantadora dos seus olhos num soneto decassílabo. Porque por mais que eu tente evitar, você sempre fora minha única, grande e maior inspiração.
Como conclusão, eu não tive capacidade de consertar nada dentro de mim mesma. Continuo um borrão de emoções arroxeado e devo admitir que depois de tanta resistência á minha verdadeira essência, minha estrutura emocional fora abalada e minha criatividade já não é mais a mesma.
E por mais dolorido que seja, eu sinto falta da mesa bagunçada, das canetas sem tampa; as folhas amassadas, as palavras riscadas e a mão suja de tinta.
Eu sinto sua falta.


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