terça-feira, 13 de março de 2012


as manhãs frias, as tardes alaranjadas e as noites coloridas.
Eu não sei á quem estou tentando enganar – será a platéia ou a mim mesma?
Eu perdi amigos que jurei serem para sempre, perdi chances que teriam feito minha vida diferente, perdi os brincos de ouro que você me deu; minha casa está caindo aos pedaços, minha mente está cada vez mais bagunçada e cheia de rabiscos – mas eu nem ligo mais. Minha mãe sempre me disse que o mundo era assim mesmo – não adianta ser gentil nem fazer dieta desconhecida. Não adianta tentar salvar a floresta amazônica, tomar suco de maracujá para acalmar os nervos e casar com alguém que tenha covinhas; toda manhã é como um bolo de chocolate recheado de culpa e arrependimento com sabor amargo.
Mas, mesmo assim, eu tentei sabe. Eu fui sobrevivendo dia após dia, me alimentando de migalhas de amor e palavras açucaradas durante dois anos. Mas quando você é um paradoxo – um paradoxo como as palavras “doce” e “amargo” são, quando postas numa mesma frase – é difícil equilibrar as coisas. Você tenta entregar as tarefas nos dias corretos, responder todas as mensagens do celular e traçar o delineador de olhos i-m-p-e-c-a-v-e-l-m-e-n-t-e.
Mas você sempre escorrega, esquece uma coisinha ali, erra uma coisinha acolá. E dentro dessa bagunça gigantesca, eventualmente você senta na sua cama de madrugada quando todos já estão dormindo, ás quatros horas e 20 minutos de uma quarta feira (...) e percebe que já não é mais a mesma pessoa de antes. Você agora faz as coisas automaticamente – um beijo do garoto mais perfeito tem a mesma liberação de serotonina quanto escovar os dentes –, ouve a opinião de todo mundo, mas nunca divide a sua.
Você percebe que tem algo errado com você quando aquela voz contestadora se calou e músicas do AC/DC estão entre as menos tocadas no seu celular. Você perdeu seu espírito, seu desejo de saber as coisas, de questionar as maiores bobagens, de simplesmente reclamar. E um belo dia – numa outra madrugada de quarta feira ás quatros horas e vinte minutos – percebe que se tornou uma pessoa vazia.
(...) garota paradoxo, de alma amarga e lábios doces.
Enfim. Hoje em dia eu ouço algumas músicas antigas, tenho pôsteres das divas dos anos 50 espalhados pelo meu quarto e continuo usando longos e curvos cílios postiços todo dia.
Eu estou aprendendo a costurar – linha por linha – e gosto de tentar escrever como os grandes autores, Drummond e Poe – linha por linha. Estou tomando vitaminas C quase todo dia para tentar ficar com o organismo anêmico um pouco mais saudável e com as bochechas um pouco mais coradas.
Mas a verdade é que as músicas não me agradam mais, os cílios são falsos, as linhas são falsas, o ar "saudável" do meu rosto é falso.
Eu me tornei uma grande farsa.


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